Texto: Evangelho de Lucas 10: 25 - 37
Título: Quem é o meu próximo?
Em seu livro “Seduzidos
pelo Palavra”, o Reverendo Gerson Correia de Lacerda cita teólogo Gustavo
Gutierrez, que por sua vez cita um poeta popular francês chamado Jacques Prevert,
o qual diz o seguinte em um de seus poemas sobre a oração do Pai Nosso: “Pai nosso que estás nos céus, permanece aí
nos céus”. Sobre essa frase Gustavo Gutierrez comenta o seguinte: “Acho que essa é a oração feita por muita
gente. Pode ser até mesmo a nossa própria oração, às vezes, porque a presença
de Deus em nossa vida nos perturba. Deus é exigente e, por causa disso, nós
preferimos crer num Deus distante”[1]. Então fica uma
pergunta: Será que, o que realmente desejamos é que Deus esteja somente nas
maiores alturas celestiais e não conosco para que ele não nos incomode? Mas
hoje ele vai incomodar!
Pra começar vai uma pergunta: O que é o pecado? É o deliberado rompimento que nós humanos
temos com o Criado. Nascemos assim, e assim queremos permanecer. Com esse
relacionamento rompido pecamos, pecamos porque todas as nossas escolhas têm
base no “eu”, no "ego". Assim, entramos em conflito com o próprio Criador, conosco mesmo e
com o próximo. Essa nossa crise, interna e externa, nos leva a desconfiar de
tudo e de todos; e sem saber, produzimos um ambiente infernal, de tormento,
sofrimento, solidão e ameaças de morte.
Em seu livro “Um novo
jeito de viver”, do Reverendo Leontino Farias dos Santos, cita o
filosofo francês Jean Paul Sartre e sua obra “Entre Quatro Paredes”, a qual conta que três pessoas morreram e
foram parar no inferno. Neste inferno essas três pessoas tinham que passar toda
a eternidade juntas. Olha só. O que significou grande castigo pra elas. No
inferno de Sartre há a conclusão de que “o
inferno são as outras pessoas”. E num desespero generalizado um tenta matar
o outro, mas ali ninguém consegue matar ninguém. Então tentam se matar, mas
isso também é impossível naquele inferno. Estão sentenciadas a viver juntas[2].
Por sua vez, na
parábola contada por Jesus e registrada pelo evangelista Lucas, a inimizade
está entre dois povos próximos: judeus e samaritanos. Os samaritanos não eram
gentios, eles também obedeciam à mesma Torá a qual diz que o seu próximo é o
seu compatriota e consanguíneo. Contudo, tanto judeus como samaritanos fizeram
do seu próximo o “inferno”.
Segundo Jesus, há somente uma maneira de quebrar toda inimizade
existente entre as pessoas. O amor. Mas, o que é o amor segundo a Bíblia? Amar
é sentir o que o samaritano sentiu, é agir como o samaritano agiu, ele se viu naquele
sujeito caído. Para surpresa dos ouvintes de Jesus naquele dia, sua parábola
mostra que um samaritano sentiu grande compaixão[3]
por um judeu. Ou seja, ele sentiu como se fosse com ele, ele sentiu lá no seu íntimo, no que imediatamente se colocou no
lugar do outro numa profunda empatia. Jesus transmite aos seus ouvintes que
para herdar a vida eterna é preciso superar as barreiras que nos separa do
próximo ou que nos impede de reconhecê-lo como tal.
E ainda hoje
Jesus nos fala que sentimentos negativos, rancorosos ou de ódio; a indiferença
e o desrespeito devem ser eliminados do coração do seu povo. E esses
sentimentos estão acontecendo em nossas casas, no local de trabalho, com
vizinhos e dentro da igreja. Disse Jesus: Lucas 6: 32 “Se amais os que vos amam,
qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam.”. (Leia: Lucas 6: 32-36 e Mateus 5:
43-48)
Isso significa que onde há o sentimento de amor, ou seja, de profunda
identificação, não há espaço para inimizades e nem para o inferno. Isso vale
para todo e qualquer relacionamento na face da terra. O outro tem sido o nosso
inferno por conta de um partido político, ou porque não nasceu na terra onde
nascemos, ou porque sua cor de pele é diferente da nossa, ou mesmo porque a sua
confissão de fé é diferente da minha.
Contudo, já experimentou se colocar no lugar do outro?
Essa é a proposta de Jesus Cristo, porque o amor é fundamental para nós e para nossas
relações. Você pode estar se perguntando: como posso começar a sentir esse
sentimento? Resposta: você sozinho não pode, mas se você se permitir ser
tocado/tocada pela graça de Cristo e deixar ele agir na sua vida a misericórdia
dele é suficiente. A boa notícia é que você não precisa fazer nada é só
permitir que o Salvador te transforme para que assim seja transformado todo e qualquer
contexto de ódio e vingança em esperança, vida e paz. Que a nossa oração seja:
“Pai nosso, que estás nos céus [...] venha o teu reino; faça-se a tua
vontade, assim na terra como no céu.”[4].
[1] LACERDA, Gerson Correia de. Seduzidos pela Palavra. Sermões segundo o calendário litúrgico. São
Paulo: Editora Pendão Real, 2001. p.26-27
[2] SANTOS, Leontino Farias dos. Um novo jeito de viver. São Paulo: L.F.
dos Santos, 2003. p. 13-15.
[3] Do grego splanchnizomai,
tem raiz na palavra splanchnon, entranhas.
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