AS ONDAS PENTECOSTAIS NO BRASIL
OS QUATRO MOVIMENTOS
O
Pentecostalismo é um movimento religioso dentro do mundo evangélico cuja
característica é a ênfase numa especial
experiência direta e pessoal de Deus que ocorre por meio do chamado Batismo no Espírito
Santo o qual se expressa com os dons espirituais como profecia, cura e o
falar em línguas estranhas. A base bíblica pentecostal parte da festa de
Pentecostes ocorrida em Jerusalém[1].
Quando se fala do pentecostalismo moderno falamos dos
movimentos avivalistas nos EUA do século 19, focado no discurso do batismo com
o Espírito Santo. Já no início do século 20, na rua Azuza, em Los Angeles,
EUA, surge a Missão da Fé Apostólica, a qual se torna a maior promotora do
movimento pentecostal[2].
No Brasil o movimento pentecostal é
normalmente identificado por três ondas, porém, é possível que nessa divisão
possamos acrescentar mais uma e assim chegarmos a quatro ondas no movimento
pentecostal brasileiro.
1º MOVIMENTO: Pentecostalismo Clássico: a chamada primeira onda do pentecostalismo no Brasil
trata-se de um Pentecostalismo Clássico que abrange o período de 1910 a 1950.
Ele chega ao Brasil em 1910, com Luigi Francescon, dando origem à Congregação
Cristã do Brasil, na cidade de São Paulo[3].
Em 1911 os suecos de origem batista Gunnar Vingren e Daniel Berg, organizam em Belém
do Pará, norte do país, a Missão da Fé
Apostólica, a qual em 1918 passa-se a se chamar Assembléia de Deus.
A marca dessas igrejas é
o Batismo com o Espírito Santo com ênfase na glossolalia, ou seja, o dom de línguas estranhas. Essa ação no
crente significa sua santificação, capacitação para a evangelização e
liderança. É a certeza que a pessoa foi alcançada pela graça divina.
2º MOVIMENTO: Cura Divina: a
segunda onda surge na década de 50 a 60 com a organização da Igreja do
Evangelho Quadrangular[4],
em 1951, que teve início com o movimento pentecostal chamado “tendas de cura
divina” por meio dos primeiros missionários da cura divina numa cruzada
nacional de evangelização. Movimento que contribui para o surgimento da Igreja
o Brasil para Cristo[5],
em 1955, São Paulo/SP; e a Igreja Pentecostal Deus é Amor[6],
em 1962, São Paulo/SP.
Estas igrejas mantém a crença do Batismo com o Espírito
Santo, dom de línguas estranhas, porém o diferencial é que tal unção evidencia
também a cura ou o exorcismo entre os fiéis; este último muito mais evidente na
Igreja Pentecostal Deus é Amor, onde se vê, pela primeira vez, exorcismos de
demônios e entrevistas com os mesmos (diga-se de passagem, espíritos com nomes
de raiz africana, sem registros de manifestações de espíritos de origem
anglo-saxônico, celta, germânico ou oriental). Contudo, faça-se justiça que com
o passar do tempo essas igrejas foram se aproximando e se alinhando com as
marcas das igrejas da primeira onda.
3º MOVIMENTO: Carismático: surge
no inicio da década de 60 em cismas dentro das igrejas luteranas,
presbiterianas, batistas, metodistas e congregacionais; movimento este que ao
se organizarem denominaram-se como Igrejas Renovadas. A marca destas igrejas é
a ação do Espírito Santo como ato renovador de poder capacitando assim os membros
da comunidade com as bênçãos dos dons espirituais.
4º MOVIMENTO: Neopentecostalismo: no fim da década de 70 e início dos anos 80 pra frente
surgem as seguintes igrejas do chamado neopentecostalismo:
§
Igreja Internacional da
Graça de Deus[9], organizada em 1980, Rio
de Janeiro/RJ, cisma da Igreja Universal do Reino de Deus.
§
Comunidade Cristã Paz e
Vida[10], organizada em 1982, São
Paulo, cisma da Igreja do Evangelho Quadrangular.
Cabe aqui fazer outra
subdivisão:
a)
Sobre as igrejas: Igrejas
Comunidade da Graça, Comunidade Cristã Paz e Vida, Renascer em Cristo, Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra e Bola de Neve Church; podemos dizer que, conforme
a visão evangélica de seus líderes, essas igrejas passaram a apresentar uma
proposta de um pentecostalismo mais aberto e livre de usos e costumes em
relação às igrejas do Pentecostalismo Clássico, bem como um distanciamento das
tradições litúrgicas das igrejas consideradas históricas (Presbiterianas,
Congregacionais, Batistas, Metodistas e Luteranas). Outras características:
foco voltado ao público jovem com uma abordagem informal, ausência de
dogmas, tradições e costumes religiosos por meio da chamada
"liberdade" para poder seguir a Jesus sem precisar mudar de estilo de
vida o qual já está acostumado.
b)
A Igreja Internacional da
Graça de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus têm como principais características
a procura de um resgate ao segundo movimento pentecostal, ou seja, a ênfase na
cura divina. O Batismo com o Espírito Santo e consequentemente o dom de
línguas, marcas do primeiro movimento, já não é necessário para todos os seus
membros, sendo muito mais observado entre os líderes pregadores.
c)
A Igreja Universal do
Reino de Deus se trona um capítulo mais a parte das demais. Esta instituição
que denomina-se “religiosa” propõem abertamente um relacionamento de barganha
com o sagrado. Ela vai além dos três movimentos anteriores, não se dá mais
ênfase para o Batismo com o Espírito Santo, não há nenhuma necessidade de seus
membros e líderes terem o dom de línguas.
Procura sempre passar a ideia de
vitória sobre o diabo, prosperidade, ascensão social; e que vida feliz é vida
de vitórias, portanto, quanto mais fé, mais “bênção”. Bênção aqui se entende
como conquistas materiais.
Dai o princípio de que se o homem tiver
muita fé, Deus se torna obrigado a atendê-lo, pois a bênção é uma consequência
da fé, quanto mais tiver uma mais terá a outra e vice-versa.
Neste discurso não se vê nenhuma ênfase
evangélica da graça de Deus, da suficiência da cruz de Cristo, ou mesmo da
relação da fé e arrependimento dos pecados. Bem como não se vê palavra sobre
mudança de vida, de caráter de um valor cristão e de conduta cristã.
Outra
questão é a total falta de interesse de se falar sobre:
a) criação – tudo foi criado por Deus e tudo era bom;
b) queda – o homem caiu e tudo mudou;
c) redenção – o próprio Deus criador envia o conserto ao mundo por meio
do seu Filho amado;
d) redenção – a promessa da vida eterna pela garantia do selo do
Espírito, o novo céu e a nova terra.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, Gedeon Freire de. In: Dicionário Brasileiro de Teologia.
Fernando Bortolleto Filho (org.). São Paulo: ASTE, 2008.
[1]
Livro de Atos 2:1-12
[2] A Missão da Fé Apostólica foi
liderada por W. J. Seymor (1870-1922), um garçom negro que foi ex-escravo.
[3] Luigi Francescon (1866-1964), de
origem presbiteriana, tem sua missão voltada nos primeiros 40 anos
exclusivamente para a colônia italiana, sustentando uma igreja
ultracalvinista.
[4] Fundada
por Aimee McPherson, em 1923, Los Angeles, Califórnia/EUA. Mote: Jesus Cristo o Salvador, O Batizador com o Espírito
Santo, O Médico dos médicos, O Rei que há de vir.
[5]
Organizada por Manoel de Mello e Silva (1929-1990) que se converteu ao movimento evangélico por
meio da Igreja Assembleia de Deus, mas que tempo depois, aderiu à Cruzada Nacional de
Evangelização, hoje nomeada Igreja do Evangelho Quadrangular.
[6]
Fundada pelo famoso Missionário David Martins Miranda (1935-2015).
[7]
Fundada pelo Bispo Edir Macedo e seu cunhado Romildo Ribeiro Soares (R.R.
Soares).
[9]
Fundada pelo Missionário R.R. Soares.
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